quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

"Ana Patrícia"


Acordei com a luz a inundar o meu quarto.
Enchias o meu pensamento, e sem saber o seu porquê, visto que para ti não existia à já 2 anos.
Contudo mesmo depois de todo esse tempo, de saber que tal como tu eras outra, também eu o era, e vários (des)amores depois, continuava em mim uma estranha sinfonia relembrando-me a loucura de te ter deixado ir.
Sentia necessidade de falar contigo, de relembrar o teu rosto, o teu (inconfundível ) cheiro.
Seria esse o próximo passo!

 
Estava um dia quente, um calor asfixiante, não devido a qualquer factor meteorológico, mas por não saber bem o que me esperava no fim desta acção que decidi tomar.
O metro estava invariavelmente cheio, e caminhava lentamente como se me quisesse atrasar, ou fazer pensar nesta minha decisão.
Acabei  então por me infiltrar no meio da multidão que o abandonava , em direcção aos seus afazeres, cada um preso aos seus pensamentos, aos seus medos, aos seus sonhos que muito provavelmente (tal como o meu) estava muito distante dali, daquela subterrânea, e velha paragem do metro.
Sentia-me estranho, como que inseguro, sem saber o que dizer ou fazer, mas ciente de que o teu sorriso traria também o meu de volta.
Entrei então no autocarro, e escolhi o lugar mais isolado possível; precisava de estar sozinho no meu mundo, flutuar entre ilusões e certezas, entre (possíveis) palavras, e verdadeiras palavras, e consequentes atitudes.
Necessitava de olhar em redor, de relembrar as conversas que enchiam as nossas antigas noites, a falta que (in)conscientemente me fazias,  e que estive uma vida a tentar mascarar.
Sim, tinha desejos, muito próximos da utopia.
Desejos para mim, para ti, para nós.
Desejos ou quimeras, ainda não sei qual a melhor definição.
Acordei como que de um transe, e encaminhei-me para a saída.
Respirei fundo, deixei o oxigénio fluir lentamente, como que esvaziando a minha mente, e a minha alma deixando apenas a massa humana que em mim existe.
Dirigi-me para onde sabia que te ia encontrar, sentei-me e acendi o cigarro, cujo fumo ia acalmando serenamente a minha ânsia de ao longe te ver caminhar.
No horizonte surgiu então um vulto, que se foi tornando mais claro, deixando transparecer o teu esbelto corpo, e teu doce rosto.
-Diego?! Tu aqui? – perguntaste.
-Pelos vistos sim – respondi-te.
Levantei-me e cumprimentamo-nos, e nessa fracção de segundos quis beijar-te, o desejo era insuportável.
-Mas afinal que fazes aqui? Nunca mais falamos! Como que desapareceste, pelo menos da minha vida - afirmaste.
-Não sei, sinceramente não sei Anne. Concretamente não sei o que aqui faço, mas acordei contigo no pensamento, e senti que devia vir, porque apesar de saber que pouco ou nada represento para ti, a verdade é que eu sempre me senti bem contigo, sempre conseguiste chegar a onde mais ninguém consegue, e pensar em ti diáriamente está a tornar-se doloroso.
-Não digas que não representas nada para mim..
-Porquê? Represento?-perguntei surpreendido.
-Eu sei que já passou imenso tempo, que ambos tivemos histórias diferentes, com acções e personagens distintas, mas acho que tal como eu também tu sabes que nunca deixamos de ter um sentimento entre nós. Sim enfraqueceu, tornou-se débil com os caminhos opostos que seguimos, mas não desapareceu! Aliás, tens enchido também o meu pensamento, ultimamente, Diego.
Fiquei estupefacto com a tua declaração, visto que o meu desejo de te ter era para mim nada mais do que uma àurea quimera, que parecia no entanto aproximar-se da tua vontade.
-Anne, sei que refizeste a tua vida, que tens um amparo na tua vida, e sabes que nunca iria mudar isso. Quero-te mais do que tudo, mas se estás feliz, é isso que me importa…
-Sim eu refiz a minha vida, mas não tenho nenhum amparo como dizes, isso já à muito que mudou!
Os nossos olhos cruzaram-se, e senti que me lias a alma, tal como eu li a tua…
Beijei-te, não resisti ao impulso de sentir teus lábios de veludo. Voltei a beijar-te, outra, e outra, e outra vez…

 
Hoje, estamos juntos, longe mas perto…
A nossa relação acalmou, serenou.
O teu mundo tornou-se o meu, e o meu o teu.
Hoje continuo a acordar contigo no pensamento, e a querer-te aqui ao meu lado, todos os dias.
O desejo é mais intenso, mais verdadeiro, mais subtil, mais nosso.
Hoje tenho medo de te perder, mas hoje posso também dizer que te amo.
Sim amo-te, mais do que tudo.

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